terça-feira, 26 de agosto de 2008

viver cansa.

Me sinto mal em me sentir mal. Por isso choro baixinho, atrás da cidade para ninguém poder me ver.
Uma tolice no entanto, porque verem ou não, pelo menos aqui, não faz assim tanta diferença.Toda mamãe ensina,porque
aprendeu certamente de sua mamãe que também aprendeu da sua mãe, que se deve perguntar porque alguém está triste, mas no
fundo no fundo? ninguém se importa. É como dizer ''bom dia'' ou ''boa tarde'', você provávelmente nem esta tendo uma
tarde ou dia tão bom assim, mas você diz no automático, simplesmente porque se deve dizer.
Me sinto mal porque mal sei catalogar o que eu sinto, há se soubesse. Procuraria a ficha da minha doença, veria os remédios
e cuidados, e logo ficaria boa.Mas não é assim tão objetivo e fácil.Talvez eu não saiba o nome do que me faz chorar ou talvez
seja apenas o cansaço apenas mesmo. Cansaço, a doença dos tediosos, dos fracos.Mas pensando bem,
desconheço alguém que não esteja cansado.
Hoje minha mãe veio entregar uma calça ,que eu deveria trocar na loja, e um casaco para mim no curso. Parou o carro rapidinho
e me entregou as sacolas pelo vidro direito. Uma mulher com um carrinho de bêbê começou a gritar e falar ''dá para sair? a senhora
parou em cima de rampa!'' sendo que mal tem rampa, é um altinho, ela poderia ter passado com o carrinho do outro lado, ou esperado
apenas 1 minuto, mas não, ninguém pode fazer mais isso pelo outro. Um senhor de idade também, como ela, saiu xingando e gritando
com a minha mãe. Minha mãe saiu com o carro, mas antes disse ''o problema é que ninguém pode fazer mais nada por ninguém,
hoje em dia ninguém sabe mais ser gentil'' ou algo do tipo. Eu achei um absurdo, como as pessoas estão cada vez mais desrespeito-
sas e furiosas com estranhos.
Fiquei até mais tarde no curso (as quintas e sextas tenho aulas de tarde também), depois do almoço corri até a loja para
trocar a calça, esperei na fila, tinham umas 4 pessoas na minha frente e até comemorei por isso, e quando chegou a minha vez
eu vi uma placa que dizia que a troca da roupa só poderia ser efetuada diante da apresentação da identidade do cliente.Eu per-
guntei para a moça se era necessário mesmo apresentar a identidade, falei que havia deixado no curso que eu estudava, e ela disse
que infelizmente eu só poderia efetuar a troca mediante ao meu documento.Corri até o curso, peguei a identidade, e quando estava
saindo o professor estava chegando.Eu o perguntei se daria tempo de eu ir a um lugar rapidinho, ou se ele iria entrar logo em sala,
ele disse que dava tempo sim. Sai correndo , e quando cheguei na loja haviam simplesmente umas 30 pessoas na fila,sendo que
cada uma demorava em média uns 5 minutos. Eu tentei respirar, esperar um pouco. As pessoas não satisfeitas em trocar a roupa
ficavam perguntando coisas, demorando, fazendo coisas que pareciam, desculpe o termo, sacanagem com a minha cara.Eu comecei
a bufar, bater os dedos numa pilastrinha, e decidi olhar o relógio. Eram 13:32, sendo que a aula começava 13:20, se eu ficasse
lá, se bobear, iria acabar a aula e eu ainda estaria lá, feito uma idiota.Sai da fila, muito nervosa, se alguém falasse ''oi''
eu acho que socaria o indivíduo.Corri até o curso, a aula já havia começado, me sentei e coloque a sacola dentro da minha
bolsa amassando a sacola com a calça, fazendo
barulho, e todos me olharam com uma cara do tipo ''está fazendo barulho'' como se eu não soubesse.Não consegui me focar na
aula, que é a minha preferida em toda minha vida (todas as quartas eu durmo ansiosa para a aula de história que terei no dia
seguinte).Sai da aula, com as costas doente absurdos ( o que não é uma novidade) fui até a loja, e haviam 2 pessoas na fila,
entreguei a calça, e a troquei, o homem nem sequer mencionou a palavra ''identidade''.Eu sai soltando fogo pelas ventas,
estressada pelo o que eu passei e por ainda ter que pegar ônibus na hora do rush, e ter que ficar ouvindo cantadas estúpidas
no ponto.Ao me perceber ali, querendo ''matar um'', batendo o pé, bufando, eu me percebi como a mulher do carrinho de bêbê,
como o velhinho do palavrão.

Atriz

Odeio ser tão inconstante
não sou um filme, sou milhões
não tenho um começo, um meio e um final
e sim milhares de começos, meios e finais
cada hora uma trilha sonora, um tema, um elenco.
Talvez nada mais eu seja do que uma atriz,
que indecisa mude de cenário, essência, papel, apenas para poder inventar a todo momento e nunca se cansar.
Mas a personagem central continua a mesma, eu.
E se um dia eu me cansar dela?

Talvez eu não sirva mesmo pra essa história,essa história de ser humano
isso que chamam de...., de...., ah sim, vida.
Quando todos parecem estar com seus começos completos, seus meios
em definição e finais distantes, eu a cada hora começo um novo
começo, e o que era novo há meses hoje em dia envelhece como um documento
histórico que rasga ao leve toque de mão.

Ego ísmo.

De fato
eu havia esquecido que para se ter um coisa é preciso renegar a outra
brigo sempre com o mundo
bato o pé querendo ter os dois
que mimo inútil, que coisa mas....fútil?
Fútil é só pensar em si mesmo.
Juro que penso nos outros
mas no final faço para mim
me diz, quem não é assim?!

Dança de um só.

Sempre dançei em par,
mas vamos lá, não se pode esquecer
um par não é um
par é a terceira opção
ou sou eu
ou é você
ou somos nós (par)
ou até quem sabe quantos mais.
É preciso definir nossa origem
porque você é meu hoje, eu sou sua amanhã
mas eu me sou desde de sempre
e isso, isso não se muda.

E hoje a dança que eu danço
é sozinha, é de um
me embolo no teu corpo
mas deslizo no salão
eu me sou, e por inteiro
e me devo explicação
se desnorteio pensamento, se chamo atenção
aí já são outros quinhentos
já é dança de salão

mas antes que se engane,
pelo meu vestido de seda
minha conversa de primavera
pela minha melodia tão linda
antes que me chame
por favor, não me culpe de um crime tão infame
os poemas evaporam no tempo
mas eu me sou, e isso nunca mudará.

O gosto do mundo

eu gosto de você
tantas perguntas que
já não sei responder
é tão leve, quase foge pelas mãos
então aquieta
a gente passa e repassa
mais nunca para olha e observa (que não são sinônimos)
nunca sente a vida da gente
como se cabe
a gente pisa no chão sem sentir o cheiro da terra
a gente olha para o mar sem se molhar com a brisa
a gente vê o verde sem se pintar
eu nunca olhei para você
eu sempre te senti.